O conto da aiaMargaret Atwood368 páginasRoccoAno de publicação: 2017Encontre na Amazon
Sobre o que é: por meados dos anos 80 um grupo fundamentalista teocrático aplica um golpe aos Estados Unidos, que passa a viver uma ditadura baseada nos preceitos bíblicos. É nesse cenário que conhecemos Offred, a nossa narradora, que nessa nova República de Gileade se tornou uma aia, ou seja, uma serva abençoada por Deus pra dar filhos àqueles que não conseguem mais tê-los. É uma distopia assustadora sobre o que acontece quando religião e política se misturam - mulheres oprimidas, pessoas sem direitos e abusos de poder pra todos os lados justificados em nome da fé.
Por que ele é bom? Eu demorei uma semana e meia pra conseguir escrever esta resenha porque muitos feelings. Tudo que eu disser a respeito de como esse livro é bom não será nada comparado ao livro em si porque ele é excelente.
Talvez o fato de eu ter sido criada numa família extremamente religiosa fez com que eu tivesse medo genuíno enquanto lia as páginas desse livro. Mas seja lá pelo que for, o que nos faz ter medo do que a aia fala é que tudo o que é descrito pode ser real. Poderia ser. Poderia se tornar realidade. Basta que apenas algumas pessoas fiquem quietas em meio a mudanças sociais que restringem direitos de algumas partes da sociedade pra que esse tipo de realidade aconteça. Não é tão impossível assim.
Tudo começa aos poucos e então a coisa fica violenta. No início, as contas de banco de todas as mulheres são bloqueadas. E então é um passo pra que elas não possam mais trabalhar e tenham de depender inteiramente de seus pais e maridos. Não é muito diferente do que acontece em alguns países ainda hoje. Se a gente olhar, por exemplo, o que foi o regime Talibã no Afeganistão (há pouco mais de dez anos), veremos que essa realidade não está tão longe de nós quanto podemos pensar.
O livro é incrível porque é uma distopia que poderia ser real e que já se tornou realidade pra muita gente. E vamos lembrar que ele foi escrito na década de 80.
Fora toda essa crítica social a religião vs Estado, também há a questão da maternidade: mulheres estéreis eram literalmente consideradas Não Mulheres, retiradas da sua condição de gênero e passavam a trabalhar em campos altamente contaminados com radiação, pois não faria parte da sociedade quem fosse velha ou não pudesse produzir filhos. Nós, desde crianças, somos expostas a filmes e livros e todo o tipo de mídia e história sobre como a maternidade é maravilhosa e completa a mulher. Só que não é bem assim. E ainda bem que hoje em dia temos uma certa noção de que podemos dizer não a esses padrões sociais e viver nossas vidas sem filhos - ou com, se for uma escolha nossa. Mas imagine viver em uma sociedade em que você só tem valor se puder parir. E se você não puder parir, por ser velha ou coisa do tipo, mas estiver casada, então seu marido arrumará uma aia, uma mulher jovem e fértil, que lhe dará filhos - assim como os patriarcas da Bíblia fizeram. Horrível.
É assustador, mas necessário pra vida fazer essa leitura.
Por que ele é ruim? Ele não é ruim de forma alguma, mas a leitura foi bem cansativa nas primeiras quarenta páginas. Só que isso se dá pelo fato de que, além da narrativa ser exaustiva por tratar de temas tão pesados, a narradora fala em primeira pessoa e eu tenho certa dificuldade com livros em primeira pessoa porque é tudo muito íntimo, muito restrito ao olhar daquela narradora. Prefiro livros com um narrador universal. Mas isso é questão de preferência mesmo. O livro não perde em nada por conta disso.
Você vai gostar se... for uma pessoa crítica, que gosta de distopias por elas nos trazerem cenários possíveis que devemos evitar. Também vai gostar quem gostou das distopias clássicas, como 1984 e Admirável mundo novo.
Em um quote:
Talvez o fato de eu ter sido criada numa família extremamente religiosa fez com que eu tivesse medo genuíno enquanto lia as páginas desse livro. Mas seja lá pelo que for, o que nos faz ter medo do que a aia fala é que tudo o que é descrito pode ser real. Poderia ser. Poderia se tornar realidade. Basta que apenas algumas pessoas fiquem quietas em meio a mudanças sociais que restringem direitos de algumas partes da sociedade pra que esse tipo de realidade aconteça. Não é tão impossível assim.
Tudo começa aos poucos e então a coisa fica violenta. No início, as contas de banco de todas as mulheres são bloqueadas. E então é um passo pra que elas não possam mais trabalhar e tenham de depender inteiramente de seus pais e maridos. Não é muito diferente do que acontece em alguns países ainda hoje. Se a gente olhar, por exemplo, o que foi o regime Talibã no Afeganistão (há pouco mais de dez anos), veremos que essa realidade não está tão longe de nós quanto podemos pensar.
O livro é incrível porque é uma distopia que poderia ser real e que já se tornou realidade pra muita gente. E vamos lembrar que ele foi escrito na década de 80.
Tem um diálogo que a Offred, narradora de O conto da aia, tem com a mãe dela antes da ditadura teocrática tomar o poder que me fez pensar muito a respeito das coisas que estão acontecendo atualmente e como elas estão acontecendo:
"Vocês jovens não dão valor às coisas, dizia. Não sabem as coisas por que tivemos que passar, só para conseguir fazer com que vocês chegassem onde estão. Olhe só para ele cortando as cenouras. Vocês não sabem quantas vidas de mulheres, quantos corpos de mulheres os tanques tiveram que passar por cima só para chegar a este ponto?
Cozinhar é o meu hobby, dizia Luke. Gosto de cozinhar.
Hobby, coisa de trouxa, diria a minha mãe. Você não precisa inventar desculpas para mim. Houve um tempo em que não lhe teria sido permitido ter um hobby desses, teriam chamado você de bicha.
Não, mãe, eu dizia. Não vamos começar a discutir por nada.
Por nada, dizia ela com amargura. Você chama isso de nada. Você não entende, não é. Você não entende absolutamente nada do que estou falando."
Fora toda essa crítica social a religião vs Estado, também há a questão da maternidade: mulheres estéreis eram literalmente consideradas Não Mulheres, retiradas da sua condição de gênero e passavam a trabalhar em campos altamente contaminados com radiação, pois não faria parte da sociedade quem fosse velha ou não pudesse produzir filhos. Nós, desde crianças, somos expostas a filmes e livros e todo o tipo de mídia e história sobre como a maternidade é maravilhosa e completa a mulher. Só que não é bem assim. E ainda bem que hoje em dia temos uma certa noção de que podemos dizer não a esses padrões sociais e viver nossas vidas sem filhos - ou com, se for uma escolha nossa. Mas imagine viver em uma sociedade em que você só tem valor se puder parir. E se você não puder parir, por ser velha ou coisa do tipo, mas estiver casada, então seu marido arrumará uma aia, uma mulher jovem e fértil, que lhe dará filhos - assim como os patriarcas da Bíblia fizeram. Horrível.
É assustador, mas necessário pra vida fazer essa leitura.
Por que ele é ruim? Ele não é ruim de forma alguma, mas a leitura foi bem cansativa nas primeiras quarenta páginas. Só que isso se dá pelo fato de que, além da narrativa ser exaustiva por tratar de temas tão pesados, a narradora fala em primeira pessoa e eu tenho certa dificuldade com livros em primeira pessoa porque é tudo muito íntimo, muito restrito ao olhar daquela narradora. Prefiro livros com um narrador universal. Mas isso é questão de preferência mesmo. O livro não perde em nada por conta disso.
Você vai gostar se... for uma pessoa crítica, que gosta de distopias por elas nos trazerem cenários possíveis que devemos evitar. Também vai gostar quem gostou das distopias clássicas, como 1984 e Admirável mundo novo.
Em um quote:
"Somos para fins de procriação: não somos concubinas, garotas gueixas, cortesãs. Pelo contrário: tudo o que era possível foi feito para nos distanciar dessa categoria. [...] Somos úteros de duas pernas, apenas isso: receptáculos sagrados, cálices ambulantes."
Mia não vejo outra resposta a não ser querer ler esse livro, parece ser cheio de um realismo que faz parte do cotidiano, quem sabe seja uma leitura para refletir e aprender mais, com toda certeza quero ler, diante da intensidade que achastes.
ResponderExcluirBeijinhos
Mia, está é a segunda resenha que leio sobre este livro e ambas concordam que os temas abordados são pesados o que deixou a leitura difícil. Mas eu leria sim, gosto da curiosidade que ele me desperta.
ResponderExcluirBom final de semana.
https://cabinedeleitura0.blogspot.com.br/
"somos úteros de duas pernas, apenas isso" --- caramba. que tenso. preciso ler!
ResponderExcluirOie!
ResponderExcluirEsse livro será uma das minhas próximas leituras no mês de outubro. Eu amo distopias, e essas que parecem reais com certeza são as melhores. Sem contar que essa autora é bem conceituada! E depois vou querer assistir a série tb, que foi baseada no livro.
Parabéns pela resenha!
Beijos!
Eli - Leitura Entre Amigas
http://www.leituraentreamigas.com.br/
Olá!
ResponderExcluirEU não conhecia essa obra ainda mas fiquei curiosa a respeito, mesmo os temas abordados deixando a leitura um pouco pesada. Acho que darei uma chance sim.
beijinhos!
É um absurdo pensar em uma sociedade assim né? Onde já se viu dizer que a pessoa não é mulher porque nao pode ter filhos??? Absurdo completo. Não tinha visto este livro ainda, mas me interessei pelo conteúdo crítico que ele tem.
ResponderExcluirBjs, Rose
Esse livro é MARAVILHOSO e deveria ser leitura obrigatória. Realmente é assustador, especialmente para nós mulheres que inevitavelmente vamos nos pôr no lugar da Offred e das outras aias. Não tem como fugir dessa alteridade proposta pela linda Margaret Atwood. E eu já adorei o fato de ser em primeira pessoa, acho que cumpre muito bem com a proposta do livro, que é mais um relato mesmo. A série também é maravilhosa, já assistiu? Beijos!
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirQuero muito ler esse livro, achei a premissa fascinante e reflexiva, quero ver também a série e sua resenha está incrível.
Abraços,
Cá Entre Nós
Olá!
ResponderExcluirPrimeiramente preciso dizer que não conhecia seu blog e achei ele incrível, principalmente a forma como você escreveu essa resenha.
Estou louca para ler esse livro desde o bom que ele teve. Acho que o que mais agrada nessa leitura é que ela é real para caramba, tocante e envolvente também.
Espero um dia ter a oportunidade de ler e curtir como você curtiu.
Beijos
Ola, tudo bem?
ResponderExcluirAo começar a ler a sua resenha, não percebi que se tratava de uma distopia e fiquei achando meio estranho, mas aí tudo fez um pouco de sentido. Também cresci em uma família religiosa acho que por isto me interessei, sem contar que nunca li livro de distopia religiosa.
Amei sua resenha!
Beijos, Larissa (laoliphant.com.br)
Eu também li esse livro e vi a série, fiquei com uma baita ressaca, infelizmente, se fizermos algumas comparações, não são histórias tão distantes da realidade narradas no livro.
ResponderExcluirOi, tudo bem?
ResponderExcluirO livro me parece interessante embora eu não vá ler.
Que bom que o livro teve este impacto em você, sempre bomm quando os livros nos deixa sem palavras!
Bjs
ainda não li o livro, mas já vi a série. e é tão perturbador!! eu não conseguia assistir mais de dois episódios por dia simplesmente por ficar aterrorizada de como uma distopia pode ser tão próxima a nossa realidade.
ResponderExcluirpesada, mesmo. mas MUITO atual. quero muito ler.
Boa noite, o tema abordado é algo como você mesmo disse atual em alguns países, não lembro o país mas vi uma reportagem que as mulheres só estão sendo liberadas para dirigir agora. Eu gostaria de ler sim.
ResponderExcluirGente, que tudo esse enredo não é? A série é ótima, e espero muito mais do livro. Amo distopia, ainda mais uma realmente tão realista.
ResponderExcluirOlá! Já quero ler esse livro, está na minha lista de desejados. Vi também que tem a versão em série. Com certeza, vale a pena conferir. Ótima resenha, bjooo
ResponderExcluirAmei esse livro também.
ResponderExcluirÉ assustadoramente possível que nossa sociedade caminhe pra isso. Toda vez que eu lia sobre como a mulher antes era estuprada por culpa dela chegava me dar um arrepio. Tem gente que tem esse discurso hj.
Minha resenha deve sair na semana que vem tbm, estou assistindo a série e chocada, a série ainda acrescenta vários detalhes.
beijos
Olá!
ResponderExcluirUau, que livro, não é a toa que Emma Watson saiu "esquecendo" esses livros por lugares de Londres.. Eu gosto de livros realistas e fico mega preocupada com esses assuntos, pois é uma coisa possível de acontecer, infelizmente, mas quero muito conferir essa história que tem tudo para ser A história!
beijos!
https://blogdatahis.blogspot.com.br/
Olá, tudo bem? Podemos perceber que o livro é um tapa na cara bem dado de assuntos polêmicos. Ainda não tive oportunidade de ler, mas todos que conheço e leram falam que amam. Espero que quando aconteça eu também curta bastante e reflita. Confesso que a parte ruim não me atrapalha tanto pois amo narrativas com uma introdução bem explicada. Gostei!
ResponderExcluirBeijos,
diariasleituras.blogspot.com.br
Olá!
ResponderExcluirEu sempre achei a capa desinteressante, mas é como dizem: não julgue um livro pela capa, não é mesmo?
Gostei de saber as suas impressões sobre a obra e, assim como você comentou, eu também tenho dificuldade em escrever a resenha quando o livro é muito bom. Tenho medo de deixar de falar tudo que eu acho dele, parece que a responsabilidade é maior! Hehe
Beijos
Olá!
ResponderExcluirEu estou morrendo de vontade de ler esse livro porque assisti ao seriado e fiquei completamente apaixonada. Eu não tenho problema com narrativas em primeira pessoa, até prefiro, então acredito que esse começo não será cansativo para mim.
Beijos.